De Kátia Borges
Recebi esse poema de uma amiga. Singelo, simples e composto com o coração.
Abraços!
Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
E a paixão por uns sambas antigos.
Partido alto, dona Ivone Lara.
Minha avó era alta.
Os cabelos muito lisos e compridos envolviam a cintura.
Eram penteados com cuidado, todas as tardes, e presos em um coque.
Os vestidos, de tecido barato, quase cobriam os pés.
Minha avó contava histórias de assombrar, ensinava a amar certas canções
E fazia predições todo final de ano.
Eu fugia com medo do futuro, e me escondia no quarto.
O presente me bastava com seus fantasmas e as notícias do mundo no Fantástico.
Minha avó gostava de beber aperitivos, de mascar fumo
E de me ouvir cantar uma música de um português chamado Hermes Aquino.
Poucos se lembram dele. Poucos se lembram dela. Poucos se lembrarão de mim.
Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
(Kátia Borges)
Abraços!
Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
E a paixão por uns sambas antigos.
Partido alto, dona Ivone Lara.
Minha avó era alta.
Os cabelos muito lisos e compridos envolviam a cintura.
Eram penteados com cuidado, todas as tardes, e presos em um coque.
Os vestidos, de tecido barato, quase cobriam os pés.
Minha avó contava histórias de assombrar, ensinava a amar certas canções
E fazia predições todo final de ano.
Eu fugia com medo do futuro, e me escondia no quarto.
O presente me bastava com seus fantasmas e as notícias do mundo no Fantástico.
Minha avó gostava de beber aperitivos, de mascar fumo
E de me ouvir cantar uma música de um português chamado Hermes Aquino.
Poucos se lembram dele. Poucos se lembram dela. Poucos se lembrarão de mim.
Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
(Kátia Borges)
13 Comments:
Que coisa mais linda, Elcio!
Tb tive uma avó maravilhosa, que os longos 20 anos que se passaram depois de sua morte, não foram suficientes para apagar tudo o que ela significou para mim! bjs
Belíssimo texto.
Minha avó Vitalina também tinha os cabelos compridos; que saudade!
Ela me ensinou a pecar. Ou, melhor: a encarar o "pecado" como uma coisa natural. Um dia te conto.
Abraços flores, estrelas..
As visões de um cego geralmente são mais corajosas.
"Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos."
É possível imaginar um universo com estes versos.
Sentido, sentindo!
Bravo! (Clap, clap, clap...) Ainda estou sob efeito dos bons shows a que assisti neste fds. Beijo.
Oieeeeeeeeeeeeee, olha eu aqui de novo!!!
Passando pra matar as saudades tantas... faz tempo né?
E aí tudo bem? quais as novidades??
Vem me contar, te espero.
Bjk
Kika
http://kika-mensagenspravoce.blogspot.com
Que lindeza de texto, Élcio.
Gostei de verdade.
Beijo.
Oi, obrigada por divulgar meu poema, "Cantiga", em seu blog. Ele faz parte do livro "De Volta à caixa de Abelhas", lançado em 2002.
É, estive em Campinas neste último domingo, mas, não foi para a Virada Cultural não. Participou de algo? Beijo.
Hoje (22/05/2007) voltei a falar de minha vó Vitalina.
Abraços, flores, estrelas...
Seu post me lembrou a minha vó Bibi. Maranhense, mascava fumo e adorava dormir numa rede. No fim da vida também ficou cega. Mas lembro muito bem dela. E também do Hermes Aquino.
"Eu sou nuvem passageira
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito
que se quebra quando cai..."
Não sei o porquê, mas vez em quando me pego cantarolando essa canção...
Adorei as lembranças que vc me proporcionou.
Bjs.
Alguém aqui falou que o hermes aquino é um compositor português. Engano, Hermes Aquino é Brasileiro e gaúcho. Fomos colegas de aula na cidade de Rio Grande - RS na década de 1950. Abração.
Pois é, Jader. Como nem todos tiveram tal privilégio de conhecer o brilhante compositor pessoalmente e indagar sobre a sua verdadeira nacionalidade, somos induzidos ao erro de acreditar no que esses falsos biógrafos nos dizem, mas, de qualquer modo, agradeço a colaboração prestimosa.
Abraço.
Elcio Domingues.
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