05 maio 2007

De Kátia Borges

Recebi esse poema de uma amiga. Singelo, simples e composto com o coração.

Abraços!


Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
E a paixão por uns sambas antigos.
Partido alto, dona Ivone Lara.
Minha avó era alta.
Os cabelos muito lisos e compridos envolviam a cintura.
Eram penteados com cuidado, todas as tardes, e presos em um coque.
Os vestidos, de tecido barato, quase cobriam os pés.
Minha avó contava histórias de assombrar, ensinava a amar certas canções
E fazia predições todo final de ano.
Eu fugia com medo do futuro, e me escondia no quarto.
O presente me bastava com seus fantasmas e as notícias do mundo no Fantástico.
Minha avó gostava de beber aperitivos, de mascar fumo
E de me ouvir cantar uma música de um português chamado Hermes Aquino.
Poucos se lembram dele. Poucos se lembram dela. Poucos se lembrarão de mim.
Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos.
(Kátia Borges)

13 Comments:

Blogger Janete Cardoso said...

Que coisa mais linda, Elcio!
Tb tive uma avó maravilhosa, que os longos 20 anos que se passaram depois de sua morte, não foram suficientes para apagar tudo o que ela significou para mim! bjs

05 maio, 2007 18:21  
Anonymous Anônimo said...

Belíssimo texto.

Minha avó Vitalina também tinha os cabelos compridos; que saudade!

Ela me ensinou a pecar. Ou, melhor: a encarar o "pecado" como uma coisa natural. Um dia te conto.

Abraços flores, estrelas..

06 maio, 2007 08:43  
Blogger Guto Melo said...

As visões de um cego geralmente são mais corajosas.

06 maio, 2007 14:29  
Blogger Tamara Queiroz said...

"Minha avó era cega.
Dela, herdei a capacidade de ver sem usar os olhos."

É possível imaginar um universo com estes versos.

Sentido, sentindo!

07 maio, 2007 00:25  
Blogger Sakana-san said...

Bravo! (Clap, clap, clap...) Ainda estou sob efeito dos bons shows a que assisti neste fds. Beijo.

08 maio, 2007 11:18  
Anonymous Anônimo said...

Oieeeeeeeeeeeeee, olha eu aqui de novo!!!
Passando pra matar as saudades tantas... faz tempo né?
E aí tudo bem? quais as novidades??
Vem me contar, te espero.

Bjk
Kika
http://kika-mensagenspravoce.blogspot.com

08 maio, 2007 19:50  
Blogger Lidiane said...

Que lindeza de texto, Élcio.
Gostei de verdade.

Beijo.

13 maio, 2007 01:18  
Blogger Kátia Borges said...

Oi, obrigada por divulgar meu poema, "Cantiga", em seu blog. Ele faz parte do livro "De Volta à caixa de Abelhas", lançado em 2002.

17 maio, 2007 23:11  
Blogger Sakana-san said...

É, estive em Campinas neste último domingo, mas, não foi para a Virada Cultural não. Participou de algo? Beijo.

22 maio, 2007 10:09  
Anonymous Anônimo said...

Hoje (22/05/2007) voltei a falar de minha vó Vitalina.



Abraços, flores, estrelas...

22 maio, 2007 18:35  
Anonymous Anônimo said...

Seu post me lembrou a minha vó Bibi. Maranhense, mascava fumo e adorava dormir numa rede. No fim da vida também ficou cega. Mas lembro muito bem dela. E também do Hermes Aquino.
"Eu sou nuvem passageira
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito
que se quebra quando cai..."
Não sei o porquê, mas vez em quando me pego cantarolando essa canção...
Adorei as lembranças que vc me proporcionou.
Bjs.

23 maio, 2007 09:10  
Blogger Unknown said...

Alguém aqui falou que o hermes aquino é um compositor português. Engano, Hermes Aquino é Brasileiro e gaúcho. Fomos colegas de aula na cidade de Rio Grande - RS na década de 1950. Abração.

23 julho, 2007 22:36  
Blogger Elcio Domingues Pereira said...

Pois é, Jader. Como nem todos tiveram tal privilégio de conhecer o brilhante compositor pessoalmente e indagar sobre a sua verdadeira nacionalidade, somos induzidos ao erro de acreditar no que esses falsos biógrafos nos dizem, mas, de qualquer modo, agradeço a colaboração prestimosa.

Abraço.

Elcio Domingues.

25 julho, 2007 16:15  

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