05 novembro 2008

Obama

Hoje, depois de muitos meses, volto para saudar esse evento mundialmente marcante. Não sei que conseqüências ele trará para o mundo, mas, espero sinceramente que o torne melhor. Refiro-me à eleição de Obama, que também é Husseim, como Sadam, aquele que, embora tirano, era mais coerente e menos hipócrita do que o tirano que o pendurou pelo pescoço; dessa vez, refiro-me ao abjeto Bush.

Torço para que esse meu colega de profissão (advogado) e tão mulato quanto eu tenha o máximo sucesso na condução das políticas interna e externa estadunidenses. Espero que ele limpe a sujeira de seu antecessor, que tenha êxito nessa "faxina" na imundície que o aristocrata sulista deixou.

O foco não pode ser a cor de sua pele, ao menos se quisermos realmente nos desapegarmos do condicionamento racista, mas a sua conduta, a sua inteligência e a sua sensibilidade, perante os inúmeros e graves problemas que terá de enfrentar.

Aliás, dois feitos mundialmente consideráveis de dois egressos dos oprimidos por suas origens, em menos de três dias: o campeonato de Hamilton, num meio eminentemente de brancos ricos e a vitória de Obama, num dos países ícones do racismo mundial.

Espero que logo a origem das pessoas, seja ela de qualquer natureza, não seja sequer um detalhe irrelevante. Que nos reconheçamos como semelhantes, capazes de amar, de odiar, de sorrir e de sofrer, apenas porque somos GENTE.

Em homenagem a todos os oprimidos, seja pelo motivo que for, republico um poema que escrevi quando assisti horrorizado a invasão do Iraque pelo ganancioso e sanguinário Bush e as conseqüências terríveis que isso causou.

Abraços a todos e saudades.


Miscigenação

Os nossos sangues se misturarão.
A despeito de teu desrespeito, de teu preconceito sujo,
injusto, ignóbil e imperfeito.
Os nossos sangues se misturarão.
Em nossa dança de exclusão em que me lanças ao nada,
ao desencanto, sem afagos, cantos ou pousadas,
sem amparo ou compaixão.
Os nossos sangues se misturarão.
Para teu desespero, sucumbido e imerso em insanável desmazelo.
Os nossos sangues se misturarão.
Ao definhares todos os dias em tua própria prisão e agonia,
conhecerás já sem alarde nossa insofismável realidade.
Os nossos sangues se misturarão.
Engana-te em tua cegueira, vaidade tola e confusão,
quanto ao azul do teu, mas, quanto ao vermelho do meu, não.
Os nossos sangues se misturarão.
Nas veias de nossos rebentos, ou sobre calçadas bombardeadas,
ou em leitos fétidos e pestilentos.
Os nossos sangues se misturarão.
No entrelace de taças perfumadas,
ou sobre os campos de superfícies turvadas,
por ódio, rancor e danação.
Os nossos sangues se misturarão.
Até que implores para que te livrem de tua sorte nefasta,
de tua consangüinidade maldita,
de tua genética aleijada,
de tua amargura inaudita.
Os nossos sangues se misturarão.
Por tua arrogância risível e tua empáfia inútil,
por teu egoísmo famélico e teu capricho fútil.
Os nossos sangues se misturarão.
Porque tua concupiscência de glutão não te basta,
para consagrares tua casta,
nem alcançares a perseguida redenção.
Os nossos sangues se misturarão.
Na confluência de todos os rios
que trazem em suas correntes navios
transbordantes de vida, graça e emoção,
os nossos deuses, que nos condenaram, enfim apaziguados,
pelo sangue de todos os degolados,
para nossa surpresa e salvação,
nos envolverão num só abraço e chorarão
apagando com suas lágrimas os traços da espada e do canhão,
do apego, da soberba e da ilusão,
e assim, sem que mais ninguém ou nada mais nos impeça,
para sempre,
Os nossos sangues se misturarão.
(Elcio Domingues)